C.E. PROFA. MARIA NAZARETH RECEBE ALUNO INDÍGENA DE MATO GROSSO
19/04/2016 - 11:12h - Atualizado em 19/04/2016 - 11:13h
Há um ano no Rio, estudante ajuda colegas e professores a conhecerem a cultura Xavante
Morador de Mato Grosso, o estudante Dinante Tserenhitmora, da Aldeia Eitpo're, veio, em 2015, ao Rio de Janeiro para cursar a 2ª série do Ensino Médio no Colégio Estadual Professora Maria Nazareth Cavalcanti Silva, localizado em Cascadura, na Zona Norte do Rio. (*) A mudança de estado e de escola foi possível graças a um trabalho em conjunto do diretor do antigo colégio de Dinante – Escola Estadual Indígena David Aire’ro – Josué Rodrigues Nogueira Júnior, e da professora de Inglês do C.E. Profª. Maria Nazareth, Valéria Plaisant.
Segundo Valéria, assim que chegou, Dinante foi recebido com muita empolgação e interesse pelos novos colegas. O estudante faz parte do grupo indígena Xavante, que, atualmente, habita o leste do estado do Mato Grosso, mas cuja história envolve passagens por diversas regiões, como pelo Noroeste de Goiás, por exemplo. Ainda durante o século XIX, fugindo dos aldeamentos de colonização no interior do estado, os xavantes migraram para regiões como a Serra do Roncador e o Vale do Araguaia, no Mato Grosso, onde mantém algumas aldeias.
Após a sua transferência, Dinante teve um acompanhamento para adaptação realizado pela direção escolar, com o objetivo de promover, da melhor forma possível, a sua integração na comunidade escolar. Estiveram envolvidos neste processo o Núcleo de Adolescentes da UERJ (NESA), que ofereceu acompanhamento psicológico e médico, e o Comitê Étnico Racial da Diretoria Regional Metropolitana III, coordenado pelo professor Daniel Coordeiro de Melo.
Inicialmente, o aluno indígena sentiu certo estranhamento, especialmente em relação ao comportamento de alunos e de professores nas salas de aula. Com o passar do tempo e com a criação de novas amizades na turma, Dinante aprendeu a compreender as diferenças e a se adaptar aos novos costumes.
- Foi através de um sonho que eu descobri esta vontade de estudar na cidade grande. Logo depois, conversei com meus pais sobre a possibilidade e com o meu amigo Josué, diretor da minha antiga escola, e recebi total apoio para concretizar este desejo – contou Dinante.
Agora, o estudante, que mora atualmente na casa da família do diretor Josué Rodrigues Nogueira Júnior, no Rio de Janeiro, tem como objetivo ingressar em uma universidade federal por meio do Enem, mostrando, nessa sua caminhada de estudos, um pouco da cultura xavante.
Dinante e os projetos sustentáveis da unidade escolar
Ainda no primeiro semestre de 2015, o aluno indígena entrou no grupo escolar ‘NazarethSustentável.com’, composto por estudantes, ex-alunos, professores e ex-professores da unidade. O objetivo da iniciativa é elaborar diversos trabalhos e projetos em prol do meio ambiente e da sustentabilidade.
Pensando nisso, o C.E. Profª. Maria Nazareth Cavalcanti Silva desenvolveu, no início do ano passado, o projeto “Terra, Planeta Água”, com atividades simultâneas entre o colégio e os alunos xavantes da antiga Escola Indígena de Dinante, Davi Ai’rero. Uma delas foi a realização de uma videoconferência entre as duas escolas na Nave do Conhecimento do Parque Madureira. Professores e alunos apresentaram iniciativas sustentáveis desenvolvidas por eles nos últimos anos.
- Em conversas em sala de aula, nossos alunos colocam as ideias para o projeto, que são debatidas e colocadas em prática. Todo o trabalho executado segue as orientações do Projeto Político Pedagógico (PPP) e do Currículo Mínimo.
O resultado de todo esse trabalho pode ser medido pelos ótimos índices de alunos da nossa escola aprovados em universidades públicas e privadas – comentou a professora Valéria Plaisant.
Para o ano de 2016 já foi escolhido o tema “Naza Tecnologia e Reutilização de Materiais”, que irá nortear as pesquisas de campo dos estudantes. O evento deste ano também contará com uma videoconferência.
Além do grupo sustentável, Dinante também participou ativamente do Desfile Maria Fashion Week 2015, sob a coordenação da professora Janete Rosa. O Desfile, que, desde o início, é realizado utilizando-se materiais recicláveis e sustentáveis em suas produções, teve como tema a cultura xavante, representando os hábitos e costumes destes índios. Foram confeccionadas saias e roupas e uma caracterização com pintura, a partir da ajuda de Dinante.
- Quando cheguei ao Colégio Maria Nazareth, não imaginava quantas mudanças seriam feitas em minha vida. No dia do desfile, tive uma sensação muito forte ao ver as pessoas felizes em representarem minha cultura. Fiz tudo com muito amor e o projeto ficará em minha memória para sempre! – contou Dinante.
Segundo a diretora adjunta, Adriana Bastos, a participação dos alunos da unidade escolar foi acima das expectativas.
- O projeto aguçou a curiosidade dos alunos e dos professores sobre a cultura dos Xavantes. Percebemos que o interesse em participar foi grande. Ninguém mediu esforços para aprender, interagir e apresentar as danças indígenas – comentou a diretora.
Cultura Xavante
As características mais marcantes da sociedade Xavante são a divisão da tribo em dois clãs, chamados ‘âwawẽ’ e ‘po'reza'õno’, e o longo rito de iniciação para meninos, que envolve uma cerimônia para a furação de orelha, na qual pequenos paus de madeira são inseridos nos lóbulos dos iniciados. Além disso, os xavantes são famosos pelas suas corridas com troncos de árvores (corrida de Tora), onde os dois clãs competem em uma corrida de revezamento, carregando troncos de buriti que chegam a pesar, até, 80 quilos.
Entre as atividades das mulheres, tem destaque a tecelagem de cestas, especialmente um tipo incrivelmente resistente que é utilizado para carregar bebês recém-nascidos. Elas são feitas com uma ampla alça, que passa pela testa da mulher, e permite que a cesta fique encostada em suas costas, deixando, assim, as mãos livres para outros trabalhos.